Gente talvez demais
Vamos fazer o
seguinte: não leia esta crônica logo agora. Abra o portal acima e levante, tome uma água.
Eu fiz isso. Também mordisquei uma barrinha, chequei a agenda. Quando voltei,
tomei susto: nesse período o mundo havia aumentado em mil, quatrocentos e quarenta e sete pessoas. O tempo de uma água e
cafezinho.
O portal Breathingearth tem algo de sinistro, inegável.
Suas cores têm um tom fosco amarronzado e um [irritante] som semelhante ao
chocalhar de uma cascavel o perpassa monotonamente – como a lembrar que o fato
que ele mede é monótono, diário, diuturno, não para, não cessa nem cansa.
E o fato que ele
mede é a chegada de gente ao mundo. Mas não só: também mede as emissões de carbono.
Rolando-se o mouse sobre cada país pode-se ver a população de cada um, o
aumento populacional e a indicação se sua população aumenta ou diminui.
Imagine
preparar um jantar para algumas pessoas. Certo, boa parte de nós já faz isso. Agora,
nesta noite de hoje virão dois convidados a mais. Bem, dois ainda é possível
remediar – se compras foram feitas há pouco talvez nem se precise ir ao
supermercado. Não, os convidados são quatro. Aí não tem jeito: vai ser preciso
sair e comprar mais comida.
Não: os
convidados são duzentos e dezenove mil. Esta noite. E amanhã, mais duzentos e
dezenove mil. E depois, mais duzentos...
Alguém
comparou a Terra a uma nave. Talvez seja mais adequado compará-la a um elevador.
E cada vez mais cheio.
Boa Semana.
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