As ávidas
mãos que folheavam o manuscrito MSS 1783-9 do Enfer da Biblioteca Nacional de Paris (19 de maio de 1968; multidões esmagavam polícias fora; nuvens negras enquanto os
jovens proibiam proibir) não
encontraram os dois primeiros pedaços [um ilegível e o outro arrancado]. Leu [e
banalmente não se tratava de alguma língua samoiedo-altaica mas de uma versão babilônica
com elementos de picardo, ainda assim muito precária]:
...dizem que eu amo os pobres. Os ricos dizem
que eu fiz os pobres [e fiz os ricos também] e ambos estão certos. Eu os fiz
para que ficassem dependentes de
mim. E [esse é um segredo público, mas só um Deus para revelá-lo] eu os fiz maus. Vejo-os como numa pintura de cor neutra, como o salmão: todos iguais. A pobreza [eu o sei,
pois eu sei tudo] uniformiza. Vejo-os [e suas preces] e atendo uma em um
milhão, se tanto [sento[PA1] -me
apenas a ouvi-las]. Sou o Absolutamente
Certo. Eles não são melhores que os ricos – são apenas o que os ricos seriam,
se pobres fossem. E deixo os seres nessa expectativa[PA2] ,
de como vão nascer – e o acaso [eu] governo tudo.
As ávidas
mãos em segundos não mais existiam: uma bala [partida (dizem) da Sûreté] o
levou ao encontro do autor do pergaminho. A menos, é claro, que o manuscrito (e sua crueldade) falsos fossem ].
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