Caspar David Friedrich preparava a corda com a qual daria
termo à vida. Decidiu que o mundo era banal e nada valia a pena ser pintado.
Era a noite de dezenove de fevereiro de 1806 e não era uma noite tempestuosa.
Três anjos baixinhos e vesgos (uma óbvia alusão às bruxas de
Macbeth) lhe bradaram que que o mundo das retinas físicas era irreal – só existia
o que pode ser visto com o coração.
O pintor fechou os olhos físicos e abriu os da alma: os
ramos dos ciprestes se tornavam mãos atormentadas de almas arrependidas que imploravam
piedade, o caminhante ao longe pensava que seria capaz de duelar com o próprio Deus
pelo amor de sua noiva, ondas se transformavam em arrebatamentos do homem
mesquinho diante do julgamento do Além.
Caspar David Friedrich pintou as paisagens da alma enquanto
os compradores enchiam seu atelier. Continuou pintando-as depois que os compradores
sumiram.
Ao abrir os olhos físicos enxergou que era um velho pobre,
que ninguém queria suas paisagens, e que os três anjos eram na verdade três
bruxas, não necessariamente de Macbeth.

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