Precários soldados
Uma velha canção francesa em voz de mulher [com um toque de Edith Piaf] me lembrou o Precariado. Ouvi-a a partir do momento 1h:19` do documentário O Som e a Fúria (La Bruit et la Fureur) sobre a Primeira Guerra Mundial. Falava sobre um levante em 1917 na Frente Oeste. Os soldados do exército francês (compreensivelmente) cansaram-se de ser mortos. E disseram não.
Cantavam esta música. A
melancolia e a sanfoninha musette
perpassam a Canção de Craonne.
Marcaram-me os versos finais Porque nós
somos todos condenados (Car nous sommes tous condamnés)/nós somos os sacrificados
(Nous sommes les sacrifiés).
Pesquisadores (entre eles o
professor Giovanni Alves) anunciam e denunciam: há um Precariado.
Mais que trabalhadores em condições instáveis de emprego, são moças e rapazes a
quem foi dito: dediquem-se e terão apartamento, carro, cônjuge e férias em
Orlando. Eles se dedicaram. E o sistema não teve a delicadeza de cumprir sua
promessa. As adolescências se estendem, as poucas vagas em concursos são
disputadas a tapas, os empregos têm a consistência de pudins. Como é esperável
de jovens bem formados e sem muita ocupação, sua forma típica de revolta é o
acampamento (como no antigo operariado era a greve).
O Nous sommes les sacrifiés da velha canção me lembrou deles. Não são
melancólicos – muitos são mesmo felizes. A mistura dos precários de hoje com os
soldados esmagados de ontem é que me encheu de certa nostalgia – de que talvez o
mundo tome jeito.
Até domingo!
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