O Google Art
Project realiza a mistura-geral ao trazer para o público internético a
parte mais significativa da obra de Caspar David
Friedrich. [Lembremos que o relançamento do site em 2012 trouxe merecida
onda de críticas – a simples edição de uma galeria era trabalho de pedreira].
Caspar David Friedrich (1774-1840)
viveu romântica vida de pintor romântico, ou quase: perdeu a mãe e um irmão
muito cedo [afogado ao tentar salvá-lo]; viveu de pintura, morreu por ela –
pobre e esquecido por seus próximos, lembrado por seus pósteros. O excessivo romantismo
de sua vida gera [fundadas] suspeitas de que talvez não tenha sido bem assim –
e este é seu primeiro enigma.
O segundo, claro, é sua temática.
Descobriu a tragédia da Paisagem [disse
alguém]. Friedrich passeava em volta de Dresden [lápis e papel na mão] e
bosquejava lagos, neblinas e montes. Nas suas obras o homem sempre era detalhe –
a paisagem falava. E falava o estado de espírito do pintor. Pequenos primores
como Dois Homens contemplando a Lua [que
inspirou o Esperando Godot de
Beckett] ou Paisagem com Túmulos resultam
desse falar.
Contemplativa e demandando tempo,
a paisagem-tornada-pensamento de Caspar David Friedrich bate de frente com essa
máquina de distrações que é a internet conectada. E no entanto suas pinturas
estão aí, e o público virtual pode vê-las. Deixando a dúvida de que até a
conturbada net sirva de [info]via para a reflexão – o que é um [bom] e terceiro
enigma.
Até domingo!

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