Hamurabi [dizem] durante 29 anos,
7 meses e 13 dias [a contagem é incerta] não pensou em códigos. Pensou em 355 dançarinas azuis
[afirmam alguns radicais que azuis na pele, mas a opinião hegemônica é que o
eram nos fiapos de roupa]. [Peroram os mesmo radicais que ele não as desejava, apenas invejava sua beleza – uma opinião de novo
controversa].
Em um improvável
crepúsculo de nuvens fracas, um velho [que no começo pensou ser ele mesmo]
e depois percebeu que era cego [e
portanto não era ele] lhe apareceu e falou.
Não lhe falou
pausado [a renitente mania de falar das aparições] mas assentou-se, tirou um
odre de [horrível] cerveja de trigo negro da Mesopotâmia e depois de já tontos lhe
falou que as orgias são ótimas [embora, depois da décima-sétima sempre decepcionem sem deixar de viciar]. Que
o desejo de glória depois da morte é vão – os pósteros estão muito ocupados em empanturrar-se,
copular e jogar-se olho gordo – muito ocupados em pensar em quem não veem. Que
a imortalidade física [se existir] não deve ser procurada, por monótona – como permanecer
na eternidade na mesma festa, por melhor que seja. E foi embora para palitar os
dentes ou arrotar – e não retornou.
Vendo o vazio
das coisas do mundo [e até do próprio mundo] Hamurabi pensou Vou fazer um Código. E os professores o
incensam até hoje. Claro, há sempre quem diga ser essa história é por demais romântica
para ser real.
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