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Não
era [no sonho] ainda o auge da tarde. [E
uma falta infinita de vento fazia
uma irrealidade que lembrava ao menino Nicolau que ele sonhava]. Do ovo não
saiu um idílico pintinho – e sim uma forma [que dançava
e se eriçava em penas e pele nua, e se debruçava e esgoelava] que assustou o
garoto [que não correu, pois sabia ser impossível correr dos sonhos, tendo de esperar
que acordasse].
A
forma cresceu sobre o mundo [curiosamente poupando o menino] abrangendo a tudo
em curiosa inércia. Um deus [que a
Nicolau pareceu Thor] surgiu e sumiu
por um par de segundos. Um empregado [o pai do garoto tinha muitas moedas de
ouro] sacudiu-o pelo cobertor e findou o delírio.
Cinco
décadas depois [torturado pela culpa
de não crer plenamente no que dizia a Verdadeira Igreja] o Cardeal Nicolau de
Cusa lembrou o sonho [e pela primeira vez acreditou que não fosse do inimigo
mas de Deus]: o Ovo era a Concepção Antiga do Mundo; o monstruoso filhote era a
Concepção Moderna [ainda informe]; ela crescia pois o mundo era [ao contrário
do que pensavam os antigos] ilimitado; a dança representava o movimento [pois o
centro do Universo se movia – e o resto com ele].
Uma
versão dramática disse que o Inimigo quis aproveitar este momento para plantar no
prelado os germes da descrença [daí o deus pagão] – mas foi rejeitado [o que não
impediu o velho cardeal de ter medo
do futuro que essas novas ideias trariam].
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