Vladimir viu
uma imagem no princípio de uma manhã de
neblina [com estranha aura rosa ao céu]. Krasnoiarsk [alguns dizem Irkutsk]
dormitava naquele 1882 [ou 3].
A aparição não
quis semelhar anjo [veio com roupas e rugas de velho marinheiro e cuspindo de
mascar fumo] e nem chegou sem aviso: pouco antes ao jovem lhe veio uma [pouco comum] vontade de
escrever sonetos. [Imbuído de suas ideias hipergenerosas de amor aos destituídos,
pensou em escrever sete, sobre os Sete Contra Tebas, heróis
como ele gostaria de ser].
O marinheiro
[que não surpreendentemente trazia um balde de rum bem curtido] lhe perguntou
[e respondeu sem dar oportunidade]:
Você quer salvar o mundo? Você quer salvar o
mundo. Rapazinho, digo-lhe uma novidade, talvez duas. O mundo não quer ser
salvo. Você vê o forte a oprimir o fraco? A pisar-lhe nos polegares? A tratá-lo
como escória? E contempla o pobre justificar isso? Não, esqueça suas teorias.
Esqueça os filósofos. O oprimido quer isso. O pobre, o amassado, o humilhado.
Eles querem. Não tente entendê-los. Não tente se entender. O ser humano quer o
pior para si. Talvez pelo pior em si. Viva,
beba, ganhe e respire. Cuide-se –
e parou a engolir mais rum.
A aparição
não sumiu. Foi o próprio Vladimir que se afastou, decepcionado. E por 197 minutos
[ele contou] decidiu mandar os proletários às favas e viver a própria vida.
Mas só por 197
minutos.
Depois
Vladimir Ulianov, o Lênin, prometeu que, quando crescesse e fizesse a
Revolução, ordenaria fuzilar 197 burgueses.
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