Maximiliano
Francisco Maria Isidoro Robespierre teve um sonho [abandonadas foram as hipóteses
de os sonhos terem sido trinta, ou sete]. Nele [previsivelmente] viu trinta
cabeças. [Não era um dia quente na Revolução
Francesa – tirando dois enforcamentos, nada anormal em Paris].
A
banalidade [na sua versão mais elevada] percolava o sonho do deputado jacobino.
As cabeças [ainda juntas aos corpos] dispunham-se como numa peça de teatro; algum sangue
[não muito, tendo em vista as circunstâncias] gotejava em um canto. [Ao contrário
do que se poderia imaginar, não era madrugada mas um sólido meio-dia, com uma improvável e fina camada
de neve cobrindo os Quais do Rio Sena].
Maximiliano
pensou nos seus trinta anos [na verdade já
completara trinta e três]. Não o tomava nenhum desejo de violência; os heróis
acometidos de uma sufocante hiper-retidão
[como os Sete guerreiros
a invadir a cidade de Tebas] o enchiam não raiva mas de tédio. [Um tédio que
permaneceria à solta na mesma ville,
para ser colhido por Carlos-Pedro Baudelaire cinco décadas depois].
Ajeitando
a peruca [era, no fundo, um conservador] e perturbado pelo sonho, Maximiliano Isidoro
definiu-se: sou um indignado. E isso lhe pareceu
justificar tudo, e tranquilizou-se.
Lembrou
daquela noite anos depois, ao assinar vinte e nove condenações à guilhotina. Pensou:
serei o trigésimo.
Não
o foi – seu aliado e comparsa Saint-Just perdeu a cabeça antes, estragando [embora
não de todo] o caráter premonitório do sonho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário