Não
havia reis em Khaalkir, mas digamos que houvesse, e que fossem cinco [na
verdade não havia nem mesmo Khaalkir nem antes
do tempo nem em tempo nenhum, mas digamos]. Um desses reis [não o menos sábio
dos anciãos] teria decidido enganar seu
povo. Pensou [e não errou]: se não dou pão,
dou dardos.
[Desnecessário
dizer que em Khaalkir o povo se apaixonara por arremesso de dardos – e os arremessadores
mais hábeis superavam deuses]. O Rei [sem dar pão] deu dardos: em época ensolarada, os jogadores [em quase-dança] arremessavam estranhos [e caríssimos]
dardos cor violeta [e nisso todos não viam
o tempo passar nem viam mais nada
[as degolas dos oficiais de injustiça ou as queimadas dos senhores de terras].
A
cada fome ou furacão o rei respondia não com trigo mas com jogos – esticando cada
vez mais os prêmios: os vencedores eram comparados ao deus Thor e a eles se ofereciam [não sem algum exagero]
trinta vezes em belas
escravas o número de vitórias que obtinham.
Por
falta de vontade de enfrentar os bárbaros
na fronteira e os outros problemas os reis sucessores [o primeiro já tendo
partido para as Regiões Longínquas] continuaram tal política de Algum pão, Muitos dardos. [E qualquer
vestígio de culpa há muito já desaparecera].
A
Culpa, os Reis, os Arremessadores, o Povo, todos se tornaram cinzas - isso se Khaalkir
tivesse existido. Sua não-existência [felizmente] poupou os cronistas de
descrever um povo que, na sua oportunidade de ser, preferiu ver homens a jogar dardos.
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