Charles-Pierre Baudelaire buscava a fêmea ideal [na
verdade (dizem os chatos de sempre) não buscava coisa alguma- nem mesmo o ennui]. O poeta
da Paris semidestruída [apesar de viver lá pela segunda metade dos 1850] parecia
viver antes do tempo: os detalhes rosa do colete misturados a uma cabeça erguida
em orgulho, como Apolo, pareciam lembrar que vivia [como o
mundo] em estranha infância sem lençóis
azuis.
O dândi [que em verdade não era] procurava banalidades;
hora favorita – o meio da tarde; tempo
predileto – as nuvens pesadas.
Contemplava a Velha Paris que não é mais -
e as cidades que mudam mais rápido que o coração dos homens e [diante
daquelas pessoas que picaretavam o antigo] se submergia de discreto desejo de desgraça alheia.
Pluvioso, irritado
contra a cidade inteira, o bardo [apesar disso] se euforizava [contra] as demolições do
Barão Haussmann. Na sua busca, topava com os desgraçados deste mundo, como um gato sobre o telhado procurando uma
liteira e agitando seu corpo magro e sarnento – ou com os desgraçados do
outro – a alma de um velho poeta errando
na goteira com a triste voz de um fantasma friorento.
Conjecturam [sem base nenhuma] que o Cisne em frente ao Louvre era na verdade o coração do poeta. E o
poeta [como Paris] mudou, mas na melancolia nada: nem blocos, nem velhos
bairros, nem andaimes.
O poeta procurava a cidade. E [dizem talvez com excessivo
sendo poético] continua a.
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