Nicômaco de Gerasa sonhou com
monstros [em madrugada na romântica cidade
de Petra, no nem tão romântico ano 100
d.C.]. Era então um sábio idoso, vestia negro,
e uma enorme tristeza das mazelas
do mundo o atormentava [e delas procurava escapatória pelas artes algébricas]. De
história de vida semelhante a uma Peça Trágica, vivia com simplicidade e
destemor, e Tirésias, o sábio cego, ocupava o troféu de seu ídolo.
Contestam a versão. Não sonhou,
pensou. Não foram monstros, mas números. Tinha seus quarenta anos [caçava as rameiras], um estúpido
medo do futuro o atormentava e
preferia Antígona porque desejava a
atriz que a vira representar. Sua vida parecia mais um conto de fadas – com ele como
um dos passantes que não são nem princesas nem bruxas.
Apesar [ou por causa] disso, pensou
[numa tarde de nuvens fracas]
em números que, ao contrário de todos, nada tinham de harmonia. Não divisíveis
por quaisquer outros, sem harmonia, sem virtú.
Os setes, os onzes. Sem partes simétricas, sem metades, sem terços que pudessem
se harmonizar em fachadas de templos. Nicômaco [o matemático] pensou nesses números,
horrorizou-se deles [pensou em elefantes de três trombas ou tigres de quinze
mandíbulas] e teve quase inveja de tais números, que [não sem certo orgulho]
desfilam impávidos sua feiura.
Dizem que dedicou sua velhice a
se tornar o mais feio possível e assim conquistar a mesma independência dos tais
números. Esse versão [é claro] é quase tola de tão inverossímil.
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