O grande charme do Derrick é sua absoluta falta de charme – esta frase
[dita por ninguém] bem define Derrick aus
der Reihe, a série de TV engendrada pela Zweites Deutsches Fernsehen a partir de 1974. Apesar do ano, os
casos do Delegado protagonista e de seu auxiliar Harry Klein possuem um inevitável
gosto de anos 1960, visível na
narrativa arrastada [meio à la nouvelle vague],
no tom fosco-amarelado da fotografia, e em
que as cenas parecem sempre se passar no meio
da tarde, com as nuvens
fracas inviabilizando quaisquer comparações entre a meteorologia e o estado
de espírito dos personagens.
Stephen Derrick [Delegado] tem
seus inexpressivos cinquenta anos e
circula por uma Munique sem monumentos reconhecíveis, mero pano de fundo para a
trama. As [poucas] garotas belas mal passam de Antígonas do dia a dia que
[desgraçadamente para elas] pouco são além de alvo de tiros e pancadas. A Avareza de sensações esconde uma indignação contida, de quanto mal
se pode conter em uma sociedade capaz dos homicídios que [afinal das contas] formam
o cerne do programa.
Em um dos episódios [não o menos atraente]
um dos suspeitos lança a frase A maior
parte das mulheres não é muito interessante; esta é, e outro conjectura Se Deus fosse uma mulher. Costumeiramente
o programa lança frases fortes, depois perdidas quando [ao final] o crime se
solve e o interesse do espectador murcha como um balão. Deixam [no entanto] um
suave tom de crítica – este,
o sutilíssimo legado da série.
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