Borges sonhava com Tigres e
Labirintos [na verdade Borges não sonhava – aqueles sombrios anos 1930, uma Buenos Aires que semelhava
sempre em eterna madrugada de preferência
com gotas de tempestade, o tom
eternamente laranja dos filmes nos cinemas da Calle Corrientes – nada o empurrava
ao onírico]. O filósofo [que na verdade não era – nem comediante, nem
romancista] passeava pelo mundo – no fundo para rejeitá-lo. Os labirintos
[muito falados e jamais vistos] e os tigres [relegados aos zoológicos] lhe
pareciam mais interessantes.
Seus personagens [colossos
carentes de traços de personalidade] pareciam ter todos a indefinível idade dos
quarenta anos; a crítica [embora silente] ao
mundo era seu único vestígio de sentimento [além da inveja que atormentava os protagonistas da
metade dos seus contos]; seu única admiração [muitas vezes reversa e marcada pela
ausência] era nem tanto o Cristo como
o sacrifício deste.
Para os heróis de Borges [e para
seus tigres, e para seus labirintos] a única saída seria a expectativa [talvez inspirada nos
sombrios becos transversais da Avenida Nove de Julho]. Isso se uma saída fosse
desejável, o que [para o autor] merecia ser objeto de longo [e inconcluso]
debate.
Nenhum comentário:
Postar um comentário