Estava eu, o velho Detetive, a
ruminar minhas recordações do meu antigo camarada Álvares Cabral, o Pedro,
quando uma ligação interrompeu a placidez do meu DKW-Vemaguet modelo 1963.
Ansioso como quem recebe uma ligação de amor da Angelina Jolie (que por sinal
continuo esperando) reconheci a voz fanhenta e carrascosa de minha secretária
Cacilda Regielena.
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Cacilda faz lenços
de
crochê enquanto
espera o seu príncipe.
Na foto, o lenço
número 797.342
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Ah, Cacilda Regielena,
boa menina prendada do campo, sempre em busca do verdadeiro amor – já teve
trinta e nove namorados. Todos os dias a me dar telefonemas informando desabamentos
da casa, perda de entes queridos, ameaças de morte e de ouvir 25 horas seguidas
de forró eletrônico, diagnósticos de doenças incuráveis, incêndios na vizinhança,
sem falar nas notícias ruins.
- Seu Balsa (assim me chama ela, talvez reprimindo uma paixão oculta)
descobriram a máquina da corrupção aí
perto do senhor.
Tomando nota do indigitado
endereço, desloquei-me (em alguns trechos empurrando o velho e fiel DKW) para a
insuspeita locação. Peguei-os em flagrante. Como homem atualizado que sou, usei
a expressão:
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O Veterano Detetive
a tentar entender
a complexa máquina da Corrupção
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- Apanhei-te, cavaquinhos! Então sois vós os miseráveis sarangas, sacripantas,
papalvos e aldrabões que infelicitam o país com vossa funesta máquina! Recebei
agora a punição por vós merecida!
- Oh, meu caro senhor – disse um deles. E me revelou que a
corrupção, ao contrário do que espirra a patuleia, é responsável por empregos, avanço
tecnológico, criação de novos compostos patenteados de moléculas de aminoácidos
e pelo desenvolvimento de meios eficazes para convencer um violinista clássico
a se tornar fã de Luan Santana.
Estonteado pelo raciocínio tão
adredemente desenvolvido, decidi voltar ao escritório para estudar a situação
junto com minha fiel secretária. Estamos meditando seriamente sobre a
possibilidade de entrar com embargos de declaração, para ver se entendemos
alguma coisa.


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