Dia desses, eu, o Detetive
Artemidoro Balsemão, dedicava-me a profundos e afogados pensamentos sobre como
seria possível resolver o problema das licitações que infelicitam o nosso
eufórico país.
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Aspecto da Sala de
Licitações, repleta de licitantes honestos
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[De fato, tais
pensamentos me vieram depois de outro alarme falso – pareceres técnicos de insofismável
honestidade garantiram que, no caso da licitação de palitos de dente usados, qualquer
preço abaixo de 100 contos por palito significaria falência dos pobres e
ingênuos licitantes].
Pensei então no estratagema – em
vez de tentar saber quem são os ladrões, o que tem sido feito desde que Cabral
era menino, eu tentaria identificar os honestos. Mandei publicar então aviso nos
jornais:
Licitação Direcionada n. 000000000001/2016
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Licitantes honestos
a analisar
um edital, com os trajes típicos
da época
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Este certame será ganho por quem entregar mais queijos de minas,
perfuminhos parisienses e ipods para as pessoas certas. Quê? Quer saber o
objeto da licitação? Pra quê?
Meu raciocínio [brilhante, um dia
alguém mais além de minha secretária Cacilda Regielena reconhecerá isso] era que,
se as licitações aparentemente honestas atraem lobões, as licitações
aparentemente roubadas atrairão cordeirinhos.
Sentei-me na mesa de
licitações, armado de um bloco de notas para anotar os lances, um par de lápis e
um celular ching-ling do camelô, e pus-me a esperar. Como os licitantes
tardavam, tirei um cochilo.
Quando este velho detetive abriu
os olhos, não havia mais lápis. Nem bloco de notas. Nem mesmo a vetusta mesa
licitatória.
Mas antes que os pessimistas
comecem sua algaravia, observo que não quiseram o celular. A Honestidade ainda
existe.


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