Certo dia e por quatro horas e meia conversei com
Jean-Jacques Rousseau. Encontrei-o numa birosca com anúncios de Brahma e
Guaraná entre Itapajé e Forquilha [ou numa estalagem com vinho da Borgonha
entre Paris e Genebra, depois de trezentos anos a memória me falha]. Sentamo-nos
à janela [eu vinha de dar entrada no protocolo de mais dois processos – ele caíra
na estrada havia semanas e nunca se sentira tão feliz]. A paisagem dos
mandacarus [ou dos pinheirais do Vale do Loire] encheram nossos olhos e por
muito tempo [sem importar quanto] não dissemos nada.
Depois falou - de garotas e de natureza [amores adolescentes por
primas e por certa Madame que o
acolhera – e de lagos de superfície espelhada nos quais gostava de remar].
Não me contou fofocas de filósofos – de fato, além de chamar
Diderot de tolo e Voltaire de imbecil não tocou no assunto.
Falamos [para minha decepção] de frutas: eu o ensinei a comer
mangas-jasmim [que ele não conhecia] e ele me falou como a natureza era sábia. Mostrei
a ele a beleza do sol a entardecer além dos montes de pedra na caatinga e ele a
partir daí e em rápido raciocínio concluiu que a sociedade não prestava.
Tomou mais gole de Merlot,
sorriu e disse que precisava ir [os picos dos Alpes a pontear no horizonte]. Não
me disse que compromisso tinha - eu sabia que não tinha nenhum.
Quanto a mim, dia seguinte protocolei mais processos. E por
três séculos espero que ele retorne.
Esta crônica se encontra com as
outras da mesma série em http://inexistentebrasil.blogspot.com.br
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