Dankon – disse-me Lázaro. E eu [em
princípio] não compreendi. Não a palavra – o vocábulo que ele pronunciara se
aproximava por demais do alemão Danke
para que eu deixasse de reconhecer que me dizia Obrigado.
Não
compreendi por que me agradecia. Naquele porto do Recife naquele quente mês de
maio [como são quentes todos os maios de todos os meses no Recife] não reconheci
a barba e [acima de tudo aquele olhar de quem já viu tudo, e não teme o que
ainda poderá vir a ver] eu não lhe fizera nada. Sequer ajudara com sua mala - vinda
de um cargueiro polonês de nome impronunciável que ainda lembro como Zbigniew.
Conversamos
– a circular na beira do cais e sem que ele demonstrasse nenhuma pressa de ir a
um hotel.
Conversamos
– e conversamos em alemão, depois em inglês [eu com minha natural deferência
para com forasteiros] e finalmente falávamos [eu sem pensar muito] em língua
ondulante como ondas ou minha própria língua – falávamos em português. Espantei-me
que o soubesse. Ele se espantou que nesta terra se falasse a língua das curvas
e das dunas – pois como sabia muitas, era-lhe difícil saber sua língua natal.
Soube-lhe
[naturalmente] o nome Lázaro. Instado ao sobrenome, disse-me: Sou quem espera. E sem perceber, falávamos
em língua que misturava todas. Como eu disse, sem perceber.
[Talvez
com excesso de pieguice] espero a volta de Lázaro. Chamam-me o Esperador. O Esperantista. O Esperanto.
***
Esta crônica se encontra com as
outras da mesma série em http://inexistentebrasil.blogspot.com.br
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