.

.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Conversas com uma estátua

Os católicos da Espanha lá pelo final de 1936 decidiram que tinham algumas discordâncias doutrinárias com o senhor José Ortega y Gasset. E por causa disso eles providenciariam o envio [antecipado] do referido senhor ao Inferno. Pela mesma época os comunistas chegaram à mesma conclusão – apenas com o detalhe de eliminar o Inferno da situação, pois o dito cujo não existe.

José Ortega y Gasset respondeu que não era católico, não era comunista, não era nada – seu único interesse era a verdade. Não convenceu ninguém. Deixou sua coluna no jornal El Espectador e fugiu para salvar a pele.

Viu-se em Paris. E descobriu que não conhecia ninguém além das estátuas. Bateu longos papos com Rousseau e Descartes [e no diário escrevia que este é momento mais triste e improdutivo de minha vida].

Até que cansou de conversar com monumentos – ou não. Encontrou Vênus de Milo em um Café barato a três quarteirões do L´Opera. Ou melhor, não encontrou Vênus de Milo mas Marie Thérese, que estudava na Escola Normal, gostava de balé e tinha cabelo curto, como todas [e talvez como a original de Vênus de Milo, da qual ninguém conhece o penteado]. E possuía o corpo da original e a idade dele dividida por dois.

O Filósofo e a Estudante realizaram orgias – de estética, metafisica e o conceito da Beleza segundo Platão. Se elas envolveram cintas-ligas jogadas ao chão e palavras gritadas às duas da manhã ninguém sabe, e talvez nem interesse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário