Kim, o tempo andou mexendo
com a gente, sim. Três anos atrás e não sabíamos de nada. [E duvido que hoje
saibamos de alguma coisa]. Você era dança, sorriso e pernas [Kim] e quanto a
mim, era eu olhos e desejo, ambos por suas pernas sim, e sem nenhuma
necessidade de rima.
O tempo não passou [Kim] nós
que passamos. Em velho trecho de Guerra e Paz um viúvo amargurado fala de
Natasha Rostov – em pouco tempo a garota
começará a pensar, e isso a fará mais encantadora porém menos alegre. [E
nem sou viúvo nem você é russa – brasileira talvez, ou quiçá coreana]. Você
descobriu.
Descobriu a Culpa, e que o
futuro existe. Você dançava [Kim]. Para mim. Você tinha vinte e um? Dois? Eu um
pouquinho mais, a mandatória ilusão do cavalheiro ser um pouco mais velho – só
que eu não era um cavalheiro [na verdade não era nada]. Nem você era [Kim].
Você era sorriso e pernas, dança e lisptick,
no estúdio e na nossa cama [Segredo de Estado – nem a CIA nem nossos pais sabê-lo
podiam].
E hoje você dança [Kim] no
meio das outras. As outras não existem. Você sim. Elas flutuam [mundo aos pés e
um príncipe com flores]. E você dança também, mais sólida, a pensar, culpada de
não ter ajudado o pai necessitado [e seu pai não é necessitado]. Ou culpada de
ser humana. E pensa [como eu: O que será de mim? – a grande e única pergunta
sobre o porvir].
Eu te vi depois de mil dias,
na dança [Kim], e só se passa a existir depois da culpa. Existimos os dois, e
isso não devemos celebrar. Ou talvez [talvez] sim.
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