Os gregos no Caos
Mircea Eliade no seu Mito do Eterno Retorno menciona pouco os gregos. Curioso, pois ele os classifica no que chama não sem um suave preconceito de povos primitivos. Não obstante, o caroço duro dos seus exemplos vem de tribos da África, América e Polinésia, e entre os antigos, da Mesopotâmia. A Hélade tem importância quando o autor fala da decadência da concepção circular de tempo dos antigos – que levou exatamente ao mito do eterno retorno, ou da eterna volta do que acontece.
Aristófanes menciona a concepção
de um mundo nascido do Caos. É um dos poucos gregos que o fazem apesar de tal
concepção fazer parte de sua mitologia. A mais extensa e menos explicitamente
política de suas peças descreve um mundo onde os pássaros são os senhores – e
temem os humanos que os perseguem. Chama-se previsivelmente Os Pássaros. Nela em certo momento o
coro explica: antes havia só o Caos, as Trevas, A Noite e o Tártaro. Nela não
estava a terra, nem o ar, nem o céu.
No turbilhão a Noite concebeu um
ovo de trevas. Desse ovo com o passar das estações saiu Eros. O Amor dourado e
brilhante. Ele elevou os pássaros para serem os primeiros no amor - eles que
antes penavam na mistura do Caos.
A concepção mesopotâmica penetra
a fala do coro, embora sua concepção de Caos sem falsa piada seja caótica. Para
os mesopotâmicos, tudo já existia no Caos. Para os Pássaros, ou para
Aristófanes, nem terra, nem ar nem céu existiam. Uma concessão existe quando os
pássaros afirmam estarem antes na opressão do Caos. Eles são os filhos do amor
e da luz. E existiam. Portanto, o de bom existia. É um elemento mesopotâmico
nesse trecho de Aristófanes. Outros gregos não o teriam.