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terça-feira, 22 de maio de 2012
Apontamentos para uma impossível história do Caos - X (e último)
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Apontamentos para uma impossível história do Caos - IX
domingo, 20 de maio de 2012
Apontamentos para uma impossível história do Caos - VIII
Os gregos no Caos
Mircea Eliade no seu Mito do Eterno Retorno menciona pouco os gregos. Curioso, pois ele os classifica no que chama não sem um suave preconceito de povos primitivos. Não obstante, o caroço duro dos seus exemplos vem de tribos da África, América e Polinésia, e entre os antigos, da Mesopotâmia. A Hélade tem importância quando o autor fala da decadência da concepção circular de tempo dos antigos – que levou exatamente ao mito do eterno retorno, ou da eterna volta do que acontece.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Apontamentos para uma impossível história do Caos - VII
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Apontamentos para uma impossível história do Caos - VI
terça-feira, 24 de abril de 2012
Apontamentos para uma impossível história do Caos (5)
terça-feira, 13 de março de 2012
Apontamentos para uma impossível história do caos (4)

De Gilgamesh, herói babilônico (a)
Gilgamesh verdadeiramente existiu – é o que diz a unanimidade dos pesquisadores, incluídos aí os pressurosos organizadores que fizeram a seleção das obras para o The Harper Collins World Reader. Segundo eles, foi um rei de uma cidade chamada Uruk no tempo dos Sumérios, no território do atual Iraque. Viveu entre algo como 2800 e 2500 A.C., mas suas histórias só foram fixadas lá pelo ano 1200 A.C., quando – detalhe relevante – um outro ciclo de histórias foi incorporado ao seu, o de como quase toda a Humanidade pereceu em um dilúvio enviado pelos deuses, e só um homem e seus agregados sobreviveram. Qualquer coincidência com a Bíblia, dizem, não é mera semelhança.
Os sumérios construíram os zigurates, torres de sete andares - para a tecnologia da época, arranha-céus espantosos. Possuíam finalidade religiosa – o centro do zigurate era o centro do mundo, um lugar de quebra onde o Céu se encontra com a Terra. O mais famoso desses zigurates não é retratado muito favoravelmente – é a torre de Babel. Os hebreus, embora de ascendência mesopotâmica (Abrão nascera na cidade suméria de Ur), não iriam retratar bem o templo de uma crença que colidia com a deles. Os sumérios nunca construíram um império centralizado. Havia pequenas cidades, separadas por charcos e selvas às vezes perigosas – é o habitat do herói.
Um arqueólogo britânico em 1854 desenterrou tabuinhas – uma delas bastante quebrada nas pontas. Era o que ficou conhecido como o Épico de Gilgamesh, celebrado como a mais antiga obra literária ainda existente. De fato, o Enuma Elish é mais antigo. Significa Quando os Céus acima e trata da criação do mundo, a luta de um herói contra o dragão do Caos, e a instauração de um mundo organizado. O guerreiro Marduk vence a serpente Tiamat. Mas o Enuma Elish não possuía nem de longe finalidades entretenedoras. Os sacerdotes e príncipes o liam para o público na festa do Ano Novo e não era casual – a história justificava a sociedade babilônica, porque eles eram os melhores e porque as outras terras além das deles eram o Caos.
Uma sopa de histórias compõe o Gilgamesh, daí a sensação de uma narrativa algo quebrada – e não só pela falta de pedaços da tabuinha, apesar dos esforços de arqueólogos de completá-la com outras fontes. A partir do meio a história se define. O herói quer ser imortal. Para isso, literalmente corre atrás, além de mergulhar, como mostra a gravura. No final, não consegue, mas não fica de mãos vazias. Sigamos falando de Gilgamesh, herói babilônico.
quinta-feira, 8 de março de 2012
Apontamentos para uma impossível história do caos (3)

De guerreiros e dragões
Mircea Eliade no seu Mito do Eterno Retorno nos fala de um combate primordial. Esse evento básico, talvez o único evento realmente básico da história do mundo, paradoxalmente não aconteceu no mundo e nem no tempo. (O ensaísta romeno escrevia sobre civilizações que ele mesmo denominava primitivas, para as quais tempo e mundo eram sinônimos, ou melhor, eram indiferenciados). O combate primordial opunha um Herói ao soberano do Caos, às mais das vezes uma soberana, frequentemente um dragão ou monstro, quase sempre marinho, e em não poucos casos de três cabeças.
A mulher, o dragão, a água indiferenciavam não só mundo físico como a sociedade. Vinha o Herói. Vencia a dragoa e separava as águas da chuva daquelas do mar, criava o passar das estações e os tempos de colheita, as mulheres subordinadas aos homens e os escravos trabalhando e os senhores sem fazê-lo. Esse combate se passava antes do mundo (kosmós), e antes do tempo, ou melhor, para usar a expressão latina usada à saciedade por Mircea, ele se passava in illo tempore, naquele tempo, um tempo que não era tempo pois o mesmo não existia. Fundava a história, não fazia parte dela.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Apontamentos para uma impossível história do caos (2)

O Terror da Alternativa
Os editores da Harper Collins World Reader (edição de volume único) diligentemente informam que o Enuma Elish chegou ao conhecimento dos modernos devido a seis tábuas de argila que datam de algum tempo no período excepcionalmente longo do primeiro milênio A.C. A história neles contada, no entanto, foi elaborada provavelmente entre os anos 1500 a 1200 A.C., sendo que alguns dos seus elementos são ainda mais distantes.
As primeiras linhas da tábua um do Enuma Elish descreve o Caos - não o Nada. No Caos tudo existe, porém indiferenciado. Essa falta de diferenciação tem três elementos importantes. O primeiro é a ausência de nomes. A primeira linha do poema diz precisamente Quando os Céus acima não tinham nome. Nem o céu, nem a terra, nem os deuses possuíam denominações. O segundo é a água. A presença do elemento água nos mitos de indiferenciação é recorrente em várias culturas (lembrar a história de Noé). Na narrativa babilônica as águas estão misturadas com todo o demais e entre si mesmas, as águas do Céu e as da Terra. O terceiro é a presença de uma entidade soberana no Caos, sempre feminina.
No Enuma Elish, antes do mundo (Cosmos), havia o Caos. A enorme serpente Tiamat reinava sobre essa massa indistinta. Alguma coisa tinha que acontecer e aconteceu. O guerreiro Marduk filho do deus Ea desafiou a serpente. Armou-se com o Mau Vento, a Tempestade, o Tornado e quatro cavalos chamados Matador, Impiedoso, e Corredor e Voador e com essa formidável entourage matou Tiamat com uma flecha. Da metade do corpo de Tiamat o herói fez a cobertura do céu e separou as águas do céu daquelas do solo, da saliva da cobra vieram as nuvens, com seu fígado foram fixadas as trajetórias da lua e dos demais astros, de sua cabeça porejou a água que formou o Tigre e o Eufrates. As tabuinhas que continham o destino dos homens foram tiradas por Marduk de um aliado da serpente, e Babilônia foi convenientemente proclamada o centro deste mundo recém-criado.
O povo babilônico lia esta narrativa em sua festa de ano novo, a qual afirmava sua superioridade divina e, portanto, não deve ter sido isenta de um efeito de vaidade. O que nos leva ao problema de terror. Mircea Eliade fala do Terror da História, que não é mais que o terror dos fatos. Mas, e se a história em si não existisse? De outro modo, se Marduk não matasse Tiamat? As possibilidades para isso são infinitas: Marduk poderia ter tido medo. Poderia ter caído doente. Marduk poderia ter feito algum acordo com Tiamat, a qual, apesar de cobra, era sua antepassada. Tiamat poderia ter-lhe partido a cabeça com uma faca.
Havia muito mais possibilidades do Caos existir que o mundo, o Cosmos. Nestes muitos casos, eu, você, esse computador, Marilyn Monroe e a Antigona de Eurípides ainda existiríamos, mas massa indiferenciada de água e javalis e dialetos samoiedos, tudo sem nome e sem tempo ou por outra, o tempo poderia ser um do elemento na mistura. A possibilidade do Caos existir sempre existiu, e não a conheceríamos se tivesse existido. Saber disso é como saber que a ponte que atravessamos ontem caiu no rio 20 minutos depois da nossa passagem - calmante, mas não sem certo efeito de pavor.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Apontamentos para uma impossível história do caos (1)

Os céus acima
Uma história de caos é impossível para os homens e sua vaidade tola, mas os impossíveis aos homens são possíveis a Deus (Mt 19:26). No entanto, o propósito desta especulação pouco tema a ver com a heresia judaica, nas palavras de Borges. Os escritos mais próximos de uma história do caos são duas narrativas mesopotâmicas desconhecidas até que foram resgatadas em escavações no século XIX na antiga biblioteca de Nínive, nas margens do Tigre. (O rio em si é justificado pela história, como veremos.)
Das narrativas, a mais importante é a primeira e mais antiga. (A segunda, a Epopeia de Gilgamesh, trata de um homem que, embora deificado, traz à narrativa - assim como os homens sempre trazem a ela - um suave toque de inverossimilhança) A primeira, o Enuma Elish, é um conjunto de seis tábuas de argila. Embora não careça de certa elegância, e mesmo de sensação de suspense, seu propósito não poderia estar mais longe do entretenimento: lida durante o festival de ano novo, marcava o fim do no passado, ou do mundo passado ( os primitivos não faziam distinção entre um e outro) e começava um novo ano-mundo de homens renovados, mesmo que seus corpos fossem os mesmos.
Enuma Elish significa Quando os céus acima e sendo, como é, uma história de todos ou o começo de tudo, traz consigo uma possibilidade assustadora. Eu não falo do Terror da História que descreveu o romeno Mircea Eliade em seu lacônico ensaio O Mito do Eterno Retorno. Este último não é sobre o terror do caos (que é a não-história), mas da própria história, e esse terror começa precisamente quando o caos deixa de existir. O terror de que eu escrevo, e ao qual deram pouca importância não só o escritor romeno como o escritor bíblico e como Aristófanes (As Rãs), Platão (Timeu) e Aristóteles (Metafísica), é o terror das possibilidades, e da possível escolha do caos no lugar do cosmos. Ou seja, se o mundo não existisse.