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quinta-feira, 8 de março de 2012

Apontamentos para uma impossível história do caos (3)



De guerreiros e dragões

Mircea Eliade no seu Mito do Eterno Retorno nos fala de um combate primordial. Esse evento básico, talvez o único evento realmente básico da história do mundo, paradoxalmente não aconteceu no mundo e nem no tempo. (O ensaísta romeno escrevia sobre civilizações que ele mesmo denominava primitivas, para as quais tempo e mundo eram sinônimos, ou melhor, eram indiferenciados). O combate primordial opunha um Herói ao soberano do Caos, às mais das vezes uma soberana, frequentemente um dragão ou monstro, quase sempre marinho, e em não poucos casos de três cabeças.

A mulher, o dragão, a água indiferenciavam não só mundo físico como a sociedade. Vinha o Herói. Vencia a dragoa e separava as águas da chuva daquelas do mar, criava o passar das estações e os tempos de colheita, as mulheres subordinadas aos homens e os escravos trabalhando e os senhores sem fazê-lo. Esse combate se passava antes do mundo (kosmós), e antes do tempo, ou melhor, para usar a expressão latina usada à saciedade por Mircea, ele se passava in illo tempore, naquele tempo, um tempo que não era tempo pois o mesmo não existia. Fundava a história, não fazia parte dela.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Wando, ou ainda é vantagem ser homem



Wando devorava. Arroz, feijão, tortas de frango, batatas, churrascos e... belas garotas. Era o que ele dizia e não há porque duvidar. Dizia e se orgulhava. Mais que isso, refestelava-se em devorar mulheres e mulheres e mais outras. Suas músicas escancaravam, falavam de festinhas a três, de motéis e transparências. Como os imperadores romanos tinham aqueles arcos para celebrar seus triunfos, ele ostentava as arquicélebres peças de indumentária íntima feminina que o fizeram famoso.

E todo mundo acha lindo. Todos, a começar do padre que lhe deu a bênção para o além. Ele era um ganhão, dizem, que bacana. É isso aí, garoto. Se meu filho for também assim, não me incomodo. Bom trabalho, cara.

Diziam os antigos que o mensageiro não merece pancada e eu não mereço. Apenas constato. E a constatação é essa: se fosse uma mulher, seria o mundo do fim, ou o fim do mundo. Uma garota não poderia sair contabilizando conquistas nem cumprimentando porteiros de motel com familiaridade. Seria uma - e se seguiria uma relação inquantificável de adjetivos destinados a qualificar negativamente a mulher que tem muitos parceiros.

Ainda é vantagem ser homem, que o digam os elogios ao popular cantor. Feliz viagem, Wando.