.

.
Mostrando postagens com marcador Personagem picaresco. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Personagem picaresco. Mostrar todas as postagens

sábado, 21 de junho de 2014

016 - Amor sem lá estar

.
O videoclipe Je t´aime moi non plus causou [obviamente] escândalo quando poucas TVs ousaram reproduzi-lo no começo dos anos 70. O advérbio é [na verdade] indevido: não havia [ou parecia haver] nada de indecente naqueles quatro minutos em que Jane Birkin {os olhos azuis e os cabelos alourados hipervalorizados pelo câmera] suspirava e gatolejava pelo compositor Serge Gainsbourg [o indefectível cigarro e a cara de cafajeste assustado de sempre - sendo discutível se existe tal cara].

Em uma Paris esmaecida de uma [presumível] tarde de nuvens fracas, a garota [com um sobretudo negro que se lhe oculta as formas do corpo parece lhe colar inteiro na alma – uma péssima imagem que ocorreu a mais de um crítico] passeia por uma Paris de turistas e romance – a esplanada do Trocadero, de onde se tem a visão clássica de fotos de turistas da Torre Eiffel; a própria Torre, na época ainda com grama por baixo; a ponte sobre o Sena [com certa reminiscência de uma romântica Edith Piaf] em que os passantes espiam o casal [mais o casal que a câmera].

O vídeo [o que perturbou os agentes da censura da época] não possui cenas que se possa apontar e dizer É por isso que deve ser proibido! [Exceto dois segundos em que o casal se abraça em uma curiosa piscina de travesseiros, que no entanto não pareceram suficientes para endossar uma interdição]. Sua falta de medida vem [na verdade] de uma aparente ausência – a sensualidade avança tão forte que nem precisa ser explicitada [o que a torna forte ainda mais].

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Resenha de filme: Sanjuro, de Akira Kurosawa

Há personagens recorrentes em narrativas de diversas épocas, de diversas culturas e meios de difusão. O cineasta japonês Akira Kurosawa criou mais uma manifestação de um desses avatares ao filmar Sanjuro em 1962. Sanjuro Tsubaki na verdade nem tem nome – ele inventa esse nome quando lhe perguntam. Nem nome, nem emprego. É um ronin, um samurai desempregado do século XIII, vendendo seus serviços ao clã feudal que queira comprá-los. Nem emprego, nem roupas – seu quimono é surrado. Livre e pobre.

Chega a certo feudo em tempo de conflito. Nove rapazes creem que há corrupção no feudo, enquanto o senhor feudal está ausente. Planejam uma revolta. Sua ingenuidade os destina ao fracasso. Mas o ronin aparece do nada, ouve seus planos, dá-lhe os conselhos certos, insulta-os quase sempre. Eles relutam, mas obedecem. Claro que o outro lado, o lado corrupto, não se apetece dessa situação. O filme é o desenrolar de uma luta entre as duas facções do clã, com o ronin como fiel da balança.

Sanjuro é descendente de personagens do gênero picaresco – aquele pobre, que vive numa sociedade desigual, injusta, e que para sobreviver conta só com sua esperteza. João Grilo é assim. Assim como o senhor feudal esfarrapado de O incrível exército Brancaleone e os metalúrgicos empobrecidos de Ou tudo ou nada. Diferentes, enfrentam a sociedade de classes e a prepotência dos ricos com humor e esperteza. O resultado são filmes quase sempre leves, mostrando que a descontração está do lado do oprimido. Seja feliz assistindo por um par de horas a Sanjuro.