O Caos em Milton, e o fim
O editor do Syntopicon da Great Books of
the Western World, 1a edição, sinalizou que Milton escreveu brevemente
sobre o Caos nas páginas 129 a 133, do volume 32, que correspondem ao final do
Livro II do Paraíso Perdido. Satã
viaja. Estava preso no Hades, onde fora jogado com seus aliados após a derrota
na luta pelo poder total. Foge ao cooptar um carcereiro. À sua frente entre o
Inferno e a recém-criada Terra abre-se um buraco. Enorme, por certo, escuro. É
o reino do Caos, onde o Acaso reina, junto à eterna Anarquia, e onde não há
margem, mar, ar nem fogo, mas todos eles em suas causas primordiais, e
misturados. Em uma frase estupenda,
afirma que esse Abismo é o ventre da
natureza e talvez seu túmulo, antecipando os riscos da superpoluição e do
aquecimento global.
Milton segue com rigor as
tradições de Caos sumérias e primitivas em geral – antes do mundo, o mundo
existia mas em mistura. Sua novidade consiste não em pregar o Caos na parede de
um passado in illo tempore mas em
colocá-lo como um mundo paralelo a outros mundos, nomeadamente o Céu, o Inferno
e a Terra. Enquanto escrevo isso, o Caos existe, e me (e te) espreita.
Em Dante não há Caos. Podemos
colocá-lo em paralelo com o inglês: o assunto é o mesmo, diferenciam-se as
visões católica e protestante. No florentino há três mundos, o Céu, Purgatório
e Paraíso, além da Terra. Em nenhum existe Caos. Até o Inferno se organiza em rigorosas
camadas com punições e punidores próprios. O Caos foi expulso.
E chegamos ao fim de nossa
mini-exposição sobre o Caos. Poucas conclusões, como é lógico. Não há uma
história do Caos. História é ordem e sequencialidade. Na mistura, isso
inexiste. É interessante e pouco tranquilizador saber que a noção de Caos se
esgueira até hoje pelas beiradas da nossa cultura ocidental.
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