Arnold Hauser
[em certa nota de pé de página na segunda edição húngara do seu História Social da Arte e da Literatura]
refere-se que Os Sofrimentos do Jovem
Werther [a obra seminal do romantismo teutônico] até dois dias antes da
impressão tinha este mesmo nome, porém trocando Werther por Kassler.
Tal mudança
poderia ser uma mera escolha de nome do personagem por parte do autor Johann
Wolfgang von Goethe, se o tal
Kassler [ainda segundo o historiador] não tivesse sido bem real.
Amigo de
Goethe na Universidade, Johann Wolfgang
von Kassler [a coincidência é significativa] pensava [como Werther] em conhecer
a mulher de sua vida. Imaginava, porém, que sempre que dobrasse uma esquina à
direita, ela estaria à esquerda – e ele nunca a conheceria; ou se a carruagem
atrasasse cinco minutos; ou se fosse ao teatro,
em vez de estudar na casa de um amigo. O eterno pensar no que poderia ter sido o
acachapava – a ele e a seu amigo Goethe, que [não surpreendentemente] começou a
pensar em seu amigo como um atormentado personagem.
Goethe tomava
nota do gosto de Kassler pelos lenços rosa, pelos
filés grossos de porco, pelos crepúsculos de ventania e pelas estátuas de Apolo [com o qual (presumivelmente) se
identificava]. E acima de tudo, com seu ar de expectativa, sempre a pensar no
que pudera ser, sem nunca ter sido.
Isso [talvez,
e segundo amigos de Hauser, que nunca o pôs no papel] levou o poeta a esquecer
o tenso Kassler em favor de Werther, tão infeliz quanto, porém mais simples.
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