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Encontrei
Guilherme IX da Aquitânia [ou talvez não o tenha encontrado] em algum lugar
entre Carcassonne e Castelnaudary. [Era um estranho meio-dia de sol esbraseante, não muito comum no
sul da França]. Veio com sua trupe de jongleurs
[pífaro, mago e tambor tocando toadas medievais à frente], a barba cor laranja – o doce desengoçamento de um deus Apolo às avessas. [De alguma forma eu não
estava mais no confortabilíssimo trem-bala da Rede Ferroviária Francesa].
Chamou-me
para um vinho numa estalagem [um daqueles vinhos quase cor de asfalto que as estalagens
do dia 4 de maio de 1114 serviam (e de alguma forma eu sabia que me encontrava
naquela data – ou em outra – e que o Trovador Guilherme completara seus bons quarenta)]. E me disse [o quinto copo já enxuto] que as mulheres não
prestavam, que os bons alaúdes são aqueles feitos por feiticeiros sarracenos
com cinzas de gatos listrados abatidos em noites de lua-nova em dias ímpares,
que a política traz duas tristezas [ser atacado pelos inimigos e traído pelos amigos] e que [apesar de
tudo] da vida restam apenas as mulheres, os alaúdes [os bons e os maus], a política
e os vinhos.
Para
arrematar [acompanhado pelos gestos de um patético bufão] agarrou o tambor e me
contou [em versos de sete sílabas] a história de um viajante [novecentos anos
depois] que [numa viagem de turismo] imaginou encontrar o primeiro dos
trovadores. História por demais óbvia para ser real.
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