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Um
pequeno [e pouco compreendido] trecho de Proust A imobilidade das coisas que nos cercam talvez lhes seja imposta por
nossa certeza de que essas coisas são elas mesmas e não outras inspirou o filme [17 minutos] que estreou a 23 de junho
de 1935 no Café dos Toulousinos a
dois passos do Ópera de Paris. Passado em futuro
indefinido, o enredo do curta-metragem [na verdade] inexiste.
Seus
primeiros dez minutos [em monótono tom salmão]
retratavam em tempo real: uma foto
de um bebê, dois fósforos, uma xícara de leite com chocolate já meio tomada e um
vaso com cinco flores [já tendo passado seu auge]. O resto se dá em um parque
com o significativo detalhe da ausência de vento: uma mulher parece fazer algo
[que pela distância não se sabe se é folhear um livro ou estrangular alguém –
cena que se repete três vezes e meia].
As
interpretações pulularam, muitas vezes abusando do direito ao estapafúrdio
[algo não incompreensível, porquanto dois na plateia tinham acabado de sair da aula
de poética vanguardista]: a imobilidade representava a vida antes do nascimento; com a hiperpureza que a caracteriza,
potencial de um desejo de violência;
a saída daquela plácida cena para o Parque significaria a decepção existencial inerente a todo
ser. E a moça [representante de tal pureza e de tal decepção – seria (na
verdade) um avatar de Antígona].
Os
dois alunos apresentaram um ensaio com tais arrazoados ao professor. O surrealista
André Breton [talvez não de todo sem razão] não os passou de ano.
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