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Tirésias [o adivinho] em certo fim de manhã viu [dizem] o Olimpo. [Era
cego mas apesar disso (ou por causa) viu-o como uma incomum pintura velada por fina seda violeta]. Os deuses [com corpo de adultos mas
ar de criança não muito boazinha] talvez
para disfarçar o tédio [inevitável em quem vive antes do tempo] resolveram se reunir
de tempos em tempos [embora o tempo para eles não existisse] para jogar bolas,
correr e atirar dardos.
Nada
de mais [além de certo orgulho deusal] se
o adivinho [entre nuvens
pesadas e a descer do monte] não tivesse descoberto que meros mortais faziam o
mesmo.
As
colheitas fraquejavam – mas arrancavam pão da boca das crianças para dá-lo aos
atletas. O tecido era pouco – mas o suficiente para cobrir os campeões como
reis enquanto anciãos morriam enregelados. O desejo de violência [visível
nos rostos de quem tentava passar uns aos outros] se cobria com uma sólida
camada de palavras arrotando fraternidade – esta invisível.
Tirésias
[tomado pela decepção] disse-lhes
que os deuses podiam [em verdade] ser cruéis – e o eram. Que aqueles torneios
eram por demais caros [e que deuses podiam se dar ao luxo de não medir os
preços das coisas, mas que tal não era o caso dos mortais]. Que deveriam
dedicar suas energias e recursos a se manterem vivos – e não nessas frívolas
atividades – e as versões a partir daí se dividem.
Quase
unânime [no entanto] é a noção de que [a partir daí] tornou-se totalmente sem
visão, não enxergando nem mesmo deuses em pose de pintura.
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