.
Fernando
Buschman viveu sua última noite de 18 a 19 de outubro de 1915 entre os muros úmidos da Torre
de Londres [e parecia roteiro de algum (mau) filme de suspense]: tomou do
violino [um curioso violino cor quase laranja]
e tocou mazurcas [não necessariamente bem]
pela madrugada quase toda. Ao alvorecer
[ele com a hiper-retidão dos
injustos que sabem que não há outro jeito] foi fuzilado por espionagem.
Desejos
de deixar últimas lembranças de coragem não perturbaram sua [mais interessante e
menos conhecida] penúltima noite. [De fato, dela só sabemos por papéis deixados
pelo carrasco Sir Basil Thomson, chefe
do Serviço de Contra-espionagem de Sua Majestade e pioneiro da noção (hoje em
dia generalizada) de que o Estado deve temer e controlar seus cidadãos].
Segundo
tais documentos, o brasileiro Fernando [esperavelmente] chorou metade da noite.
A outra metade pensou em refazer a vida desde a infância
– e rever cada escolha que o havia levado ao patíbulo. Depois entregou-se à autopiedade [espessa neblina entrava pelas grades da
masmorra]. Tolamente gritou Viva! sete vezes [ao se imaginar sete vezes herói contra o
carrasco inglês]. Depois [cansado de lutar contra si] entregou-se à indiferença.
Ao
morder um pedaço de pão com mortadela [e certificar-se de que ainda vivia] tomou
a decisão [não necessariamente correta] de [na noite seguinte] pedir um violino
e tocar músicas ruins, sendo menos verdadeiro porém com um perfil melhor para a
História [que afinal não se importava com ele].
Nenhum comentário:
Postar um comentário