A França também esqueceu, ou
quase - o poeta nascido em 1866 e que logo adotou o nome de Éphraim Mikhael.
Dele se encontram um inevitável verbete biográfico na Wikipedia;
uma estátua na cidade de Toulouse
que um turista fotografou e pôs no portal Panoramio; e suas Obras (Oeuvres), uma coletânea de
poemas, poemas em prosa e peças teatrais (algumas incompletas) publicada por
seus amigos logo depois de sua morte aos 24 anos, disponíveis em pdf na
Biblioteca Digital Gallica e
recentemente republicadas
pela pequena editora L´Âge d´Homme.
Éphraim Mikhael na melhor parte
de sua obra viveu a cidade – não a sua cidade natal mas Paris, na qual morou
desde aos quinze anos e essa mudança causou fundas marcas em sua obra. A
capital francesa é a primeira cidade moderna – destruída e reconstruída para
sê-lo em reformas décadas antes do poeta chegar. Passeia por ela como estranho
– por não ter nascido nela, ou por na cidade moderna todos serem decididos a se
manter estranhos.
Vê a quem não o vê: no poema Domingos Parisienses observa garotas (Elas passam, frágeis bonecas/ de olhos
cruelmente serenos). Apesar disso a cidade o fascina, como em A Alma Pueril (Eu passo pelo campo, indiferente/ porque sempre em meu coração o impuro
amor das cidades/ canta mais alto que a floresta e a torrente).
A cidade de Éphraim Mikhael
rejeita (quase) tudo o que não seja o observador puro, em silêncio. Não se
trata de uma cidade concreta – não há, ou quase, menções a lugares: ele não
canta o Louvre, a Notre Dame ou as Tulherias. Sua cidade é brumosa, de
indefinições, como Luzeiros, no qual,
de uma posição no alto em meio à neblina ele compara a metrópole ao mar, com as
torres das igrejas como destaque (Eu
observo, ao longe, sobre as ondas/ deste oceano de mentiras/ fugir os imóveis
faróis). Ou banalmente real: Da
plataforma do tramway/eu vejo fugir as árvores negras (poema sem título).
Compará-lo com o nato e nativo da
capital francesa Charles-Pierre Baudelaire é (quase) inevitável. Este viu a
primeira cidade moderna em demolidora em todos os sentidos transição para a
modernidade. O tolosino Éphraim Mikhael habita – e sofre e descreve e encanta –
a cidade moderna instalada, solitária e real, com suas moças, bondes e brumas,
tanto as de vapor d´água como as do espírito. E enquanto existirem tais cidades
o poeta tolosino será docemente familiar.
Olá Paulo, sou da família de Álvaro Borges dos Reis. Me passe seu email que transcrevo as poesias para você!
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