O
Príncipe André Bolkhonski confessou buscar a Glória. [O Príncipe André
Bolkhonski nunca existiu]. E o fez no campo da batalha de Austerlitz, horas antes da própria, sob
um céu de fiapos e um
estranho sol quase cor de laranja, como
uma cena de cinema [que ainda não existia]
em um campo vazio. [Cena (por sinal) inverossímil, pois o campo de Austerlitz então
regurgitava de soldados].
Um
rapaz de seus vinte e tantos, o Príncipe
[que (se tivesse existido) seria um oficial do exército do Czar] não pensou no
pai [de resto um velho chato], na esposa Lisa Meinen [à qual dava tanta importância
quanto às ervas que via] e nem mesmo à pátria [pela qual teoricamente queria se
sacrificar]. Pensou nem em si, mas no orgulho
de ser-se – a quintessência de tal pecado [se é que o pecado, tão tolo, chegue
a ter cinco essências].
Uma
bala francesa [no fim da manhã seguinte]
esmigalhou-lhe alguns ossos [não os mais importantes] e, se não lhe concedeu a
visão na cegueira [como a um Édipo dos
tempos napoleônicos] ao menos o encheu de uma vontade de esperar o futuro – não um futuro
de ideais nem de pátria [nos quais, desde os últimos cinco minutos, não mais
acreditava] mas uma expectativa em si mesma, da qual a fama [nem mais nada]
faziam parte.
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