Geneviève
desfez o último laço e a última peça caiu ao chão e sua nudez invadiu os olhos
de Sir Lancelote do Lago. [Sir Lancelote não era seu marido – ela se
casara com o Rei – a quem Lancelote devia obediência]. O Occitanólogo René
Nelli [não em alguma reserva] descreve esta cena [que de resto afronta todos os
padrões da cavalaria] em
contestado apêndice do seu O Romance da
Flamenca.
O
episódio completo [que não ocupa mais que alguns minutos] ocorre na improvável hora
das oito da manhã. Se o momento era
banal, o resto não: o céu coberto de nuvens de tempestade cor violeta e a melosa música de trovadores que se ouvia ao fundo
apontava para grandes acontecimentos.
Geneviève
[esplendor dos vinte anos] não veio Vênus, mas Geneviève. [De fato, não trazia
no rosto e no corpo luxúria ou culpa].
Lancelote [até então preso no pântano da Hiper-retidão]
não a contemplou – deixou arrebatar por ela [tempestade em forma de cabelos
cacheados que deslizavam por seus ombros, continuavam pelos seios quase
rosados, brincavam-lhe pelo umbigo e vinham rastejar-lhe quase aos pés].
A
Falta de Medida [mesura] [o horror de
todos os amantes] não os tomou naquele momento – nem em momento nenhum. Geneviève
continuou a ser ela mesma, Lancelote o mesmo. O mundo [no entanto] deslocou-se –
e tudo o que nele não era os dois amantes passou a ser pano de fundo.
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