Jaufré
Rudel batia em bêbados, roubava moedas de viúvas e chutava gatinhos só por prazer.
[Era, em suma, um pústula, embora as crônicas do Século XII pouco ou nada digam a
respeito]. Quando não surrupiava bolsas defendia algum cantando poesias [péssimas, diziam]. Já nos seus vinte, buscava a fama e senhoras casadas [mais fáceis,
ria].
A
[jovem] Condessa de Trípoli não era flor que se cheirasse e nem gostava muito de
flores. Enganava seu marido, como uma Antígona às avessas em busca da não-integridade
perfeita. Vestia [por ironia] vestidos de casto rosa
– tudo o que não era.
Cronistas
não registraram o encontro entre os dois [e talvez tenha sido melhor assim,
para a pureza das gerações futuras] – ou melhor, registraram-no de outra forma.
Jaufré Rudel [de medíocre versejador batedor de carteiras] tornou-se menestrel
dos bons – e apaixonou-se pela Condessa, sem nunca tê-la visto. Atravessou o Mediterrâneo
e [inevitavelmente] quase se afogou em naufrágio. Chamada para ver um
desconhecido que só pronunciava seu nome, a [belíssima] Condessa veio vê-lo
numa estalagem – um crepúsculo de nuvens cor de sangue a tudo
envolvia. Aproximou-se e [num casto beijo] selaram seu amor eterno, enquanto até
o vento no seu assobio e os passarinhos no seu pipilar celebravam a beleza e a tristeza da cena.
A
segunda versão da história [obviamente] prevaleceu – corroborando os que dizem
que, entre duas mentiras, escolha-se a mais interessante. Uma tese [diga-se de
passagem] não destituída de cinismo.
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