Uma
Cabra invadiu Tebas – Tebas, a metrópole de Édipo, já vira muita coisa estranha – mas
não essa. O bicho [dizem testemunhas] era absolutamente normal, com sua barbicha
e seu gosto por capim alto [o que não é pouco em uma vila que (pelo menos nas peças de Eurípedes) sofria de uma intervenção
do Olimpo por cada tijolo].
Veio
em um ensolarado começo de manhã [e a banalidade de suas circunstâncias
(inevitavelmente) deu azo a especulações de magia]. Suas patas [é vero] tinham
uma [pouco usual] cor violeta [que podiam
indicar tanto uma preferência de Zeus, como que um conhecido folgazão da cidade
as tinha pintado, de brincadeira].
Mais
que o bicho, importam suas interpretações [mencionadas no Segundo Livro (Euterpe) da História de Heródoto, embora o mesmo devesse tratar só dos Persas]:
a sua cara soberba [de resto típica da sua espécie] foi interpretada como
indiferença ao destino humano – particularmente àquele dos pobres. Outra visão [obviamente
vinda dos que conheceriam o patriarca Édipo] afirma que o animal [que viveria
muitos anos] representa [na verdade] os percalços e a sabedoria da idade avançada [tese no mínimo curiosa, tendo em
vista a fisionomia pouco sábia da espécie caprina]. Outra considerava que o
animal autocentrado e distante de tudo simbolizava a conhecida falha humana da avareza.
A
tese de que o bicho escapou das montanhas e só queria comida fácil foi
descartada como excessivamente sem graça [o que não deixa de conter sua parcela
de verdade].
Nenhum comentário:
Postar um comentário