Cosmas
deu a volta em uma ilha e isso aconteceu em um ridículo crepúsculo rosa
pelo ano 600 ou 650. Seu barco
[levando o (na época) trintão e charmoso
comerciante] mais dançava que navegava por
oceanos sem nome, semelhante a um Tirésias
sem modéstia. [Pois dizem (não sem malícia e alguma razão) que o audacioso egípcio
buscava (além das moedas) a fama
eterna].
Inevitáveis
nuvens de tempestade o
levaram para o largo de uma ilha, para onde [mais por lassidão que por instinto desbravador] seus
marinheiros o deixaram vogar. Percebeu [não sem ser algo desiludido] que a tal terra
descoberta não tinha flores [fora uns raminhos chochos] nem pássaros [exceto gaivotas
magrelas]. De fato não tinha nada exceto uma montanha no seu centro, que se
erguia em pináculo – e a curiosíssima característica da noite cair como lâmina,
quase sem transição – e do dia surgir do mesmo jeito.
Depois
de meses de tédio, o próprio tédio fez Cosmas descobrir o segredo, de tanto
pensar. Aquela era montanha do Centro do Mundo. O sol dava voltas, não no
Universo, mas nela. O fenômeno que conhecemos por Noite não existia – era apenas
a ilusão causada pelo sol se escondendo atrás da montanha. [A mesma ilusão se
dava no fenômeno que as gentes chamavam Dia].
Retornando
ao Sinai, Cosmas [sem que se saiba por quê] tornou-se monge e dedicou o resto
da vida a desenhar esquemas de como seria o Mundo. O que gerou não poucos
risos, pois sua montanha sempre lembrava [a alguns engraçadinhos] uma grande
cesta de pão.
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