Cleópatra
[dizem] não era essas coisas todas. Nem mesmo Messalina, Lucrécia Bórgia ou Afrodite [esta atrapalhada pelo fato de
ser mitológica]. Os videntes e os moralistas [duas categorias que não se
destacam por sua credibilidade] afirmam que todas as devassas do mundo se
inspiraram em uma só – um ser diafanamente construído antes do tempo [sendo isso quase todo
o pouco que dele se sabe].
Um
profeta [sapiente ou maluco] jura ter visto a gula
em forma de pintura [uma estranha pintura
com detalhes em inevitável cor-de-rosa]: gula
pois a devassidão não passa de uma forma excessiva de devorar sensações.
Tal obra de arte [da qual (convenientemente) não sobraram vestígios] mostra uma
mulher atraente mas de idade indefinida [alguns (com algum drama) afirmaram que
ela contém no semblante os encantos de todas
as idades]. Em um banal fim-de-manhã,
entre [previsíveis] nuvens de tempestade,
a mulher mostra certo ceticismo – para a maioria, desencanto.
O
que desencadeou as costumeiríssimas críticas: este só poderia ser o fruto do
Império das Paixões – o vazio [o que quer que seja isso] e o retorno a... e
neste ponto as opiniões se dividem, desde Zeus a Vishnu.
Uma
interpretação mais cínica [e talvez mais consistente com o sucesso histórico
das ilustras damas mencionadas] seria que o semblante representa só o nada – ou
então uma reflexão sobre como continuar a busca pelos prazeres desmedidos –
explicação esta que pouco sucesso obteve.
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