Alguém
escreveu [chutam que lá pelo ano 650
d.C.] o mais monstruoso livro de receitas da História. Esse alguém [outro
chute] seria Dubcek dos Montes Carpáticos, do qual [além do nome de ressonâncias
anacronicamente tchecas e da menção geográfica] se sabe que era religioso, quase
adolescente, tinha uma forte piedade por si mesmo, e só isso. [E
se sua obra não tivesse sido encadernada junto com o exemplar da Cosmographia
Christiana de Cosmas o Indicopleustes constante na velha Biblioteca de Florença,
nem isso se saberia].
A
obra [na verdade um ensaio] mostra [em sua
enjoativa e azulada página de abertura] um
gafanhoto gigante a devorar um homem. Monstruoso porém lógico: não ensina homens
a triturar, fritar e desconjuntar por água fervente plantas e outros animais,
mas a estes como devem preparar seus algozes como repasto.
Interessam
mais os conselhos gastronômicos: homens [para serem saborosos] devem ser
preparados de madrugada, de preferência
tempestuosa. O deus inspirador
dos cozinheiros deve ser [não sem surpresa] Apolo,
por sua busca da sensação perfeita e de sua indiferença por tudo o que a isso
não diga respeito]. Afirma-se que a arte de preparar gente consiste em ato de
generosidade, talvez supremo.
[As descrições de fritagens, espetos e desossamentos são por demais gráficas
para serem aqui reproduzidas].
Miraculosamente
[dizem] a cozinha do baixo Danúbio [e por extensão, de um terço da velha
Europa] veio de tal delírio – com as esperáveis mudanças de ingrediente, lógico.
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