Dizem os
deuses [mas os deuses nada dizem] que um dia eles próprios [aborrecidos da
Divina Falta do que Fazer] resolveram criar [na Terra] um lugar à sua imagem e semelhança.
Beneficiados
pela [não menos divina] capacidade de ver o futuro, vislumbraram [como em cinema] a vida de seu Lugar Criado: pintaram
todos os dias com um sol
tão forte que dava um tom laranja
desbotado a tudo; o período mais triste [longe de ser a madrugada de
Baudelaire] era a tarde: onde tudo morria,
sem renascer completamente depois. Podendo por seus poderes soberanos colocar
este mundo em qualquer lugar, puseram-no depois
do Tempo, como forma de que pudesse estar presente em todas as épocas. O
aborrecido Édipo [embora deus não
fosse] restou entronizado como padrinho do recanto – inclusive por suas [não
menos que] irritantes avareza e senso
de autopiedade.
A própria juventude [alhures tida como feliz] ali decepcionava: numerosos e pragueados
pelo ócio [tal como os deuses e sem o sê-lo] perdiam seu tempo [que semelhava
sem fim sem ser infinito] em disputas que, se tão sangrentas como as guerras da
Ilíada e de Troia, tinham muito menos charme. Isso a juventude masculina.
Quanto à feminina, via deusas quando se olhavam no espelho – mas só no espelho.
A existência
de um paraíso não-perfeito contrasta com a visão judaico-cristã [afinal
vitoriosa] de um Deus que só cria o que é bom – o que talvez explique a pequeníssima
voga de tal lenda.
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