Simon Patiño adentrou as Eternas
Regiões no dia 20 de abril de 1967 [se é
que as ditas possuem calendários]. Morrera vinte anos antes, mas [por alguma
razão que nem os mais habilidosos cabalistas conseguem desvendar] o curto
caminho à morada eterna toma todo esse tempo.
Augusto Céspedes [o escritor] descreveu
uma entrada fanfarrônica, com monstros de lama negra e reis da diablada
multicoloridos. A realidade [se é que se pode falar de realidade nesse caso]
foi cinzenta – melhor, foi fosco-avermelhada,
a cor do estanho quando puro demais. O rei desse mineral soube concentrar em si
a riqueza [e deixar desprovida dela os mineiros da Bolívia]. Sua vida [diz o
escritor] semelha uma história
de fadas apenas com as bruxas. Tirésias
de olhos muito abertos e sem nenhuma vontade de prevenir desgraças alheias, a morte
o colheu em Buenos Aires e o levou para a famosa caverna. Durante um tempo que não precisar quanto [se é
que se pode falar de tempo em tal situação] Simon Patiño aguardou, distraindo-se
a recontar mentalmente ações de bancos e barras de estanho 99,99% [pois, mesmo
na velhice não perdera tal vício]. Ensaiou
um discurso: sua avareza seria, na
verdade, um humano medo do
futuro – e poderia ser perdoada. [Uma previsível neblina o cercava].
El Diablo enfim veio. [Simón teve quase euforia]. Em forma de velha senhora. Convidou-o
a um chá. A demora de saber seu destino o fazia suar. E suava e suava. E a
expectativa o sufocava. E depois desse sonho malévolo, Simón Patiño não
acordou.
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