Poderia ter duas cenas a
história de Hamlet [de fato, a tragédia toda poderia não durar mais que
vinte linhas]: ele recebe a revelação de que o Rei matou o rei anterior, seu
pai. Ele vai ao atual rei, crava-lhe uma adaga nas costelas. Algum sangue, um
grito, cai o pano, aplausos. O público de volta às suas casas em cinco minutos.
Não aconteceu assim na peça de Shakespeare nem no Fingalitch escrito por Ossian, suposto
primo do protagonista, de fato não uma obra mas uma sub-história dentro do Antigo Poema Épico em língua gaélica, escrito
em antigos tempos pelo
retromencionado Ossian e publicado apenas em 1761. [Que nem Ossian, nem Fingal
(o herói do poema) e nem Fingalitch (seu sobrinho) tenham existido, e que
(todos) não passassem de invenção do execrável farsante James Macpherson passa
sem se dizer].
O poema de Ossian/Macpherson [que, segundo alguns e com
pouca credibilidade, inspirou o bardo inglês] apenas ressalta a sesquipedal
insuportabilidade do jovenzinho. Em
suas cenas parece ser sempre crepúsculo,
com menção a um [pouco crível] céu esverdeado,
além de uma ou outra tempestade
igualmente deslocada; como o outro Hamlet, uma irritante autopiedade o permeia, com afirmações
repetitivas da própria pureza diante
de um mundo vil, e de uma indignação
que sua falta de vontade torna pouco críveis – um Buda sem serenidade.
O aristocratazinho chato de Ossian [assim como o outro
mais famoso] enche o tempo [e o pobre espectador] com frases significativas. E
eis a questão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário