Certo simpósio internacional [cuja existência tem sido (não
sem razão) posta em debate] reuniu-se a discutir qual teria sido o mais
aborrecido dos períodos da História. [Claro, as Revoluções e Guerras mais
populares ficaram automaticamente de fora]. Definido o período, passaram ao ano.
Depois ao lugar, depois ao dia da semana [no qual a terça-feira teve
compreensiva e unânime votação]. Depois [e finalmente] ao momento, e ao
personagem que mais o definiria.
Os debates [que consumiram tempo não desprezível] concluíram
que o mais aborrecido dos dias da história mundial aconteceu em 13 de setembro
de 1955, em Lisboa.
Naquele dia, António de Oliveira Salazar [incógnito] fotografou [sem grande interesse] uma ou
duas chapas do cair da noite. [Alguma ventania não o atrapalhou]. O mais
chato dos ditadores [da mais chata das ditaduras] passeava pelo cais a partir
da Baixa. Não se via como fascista [de fato, deixara os detalhes verdes da roupa, do tempo em que bajulava Mussolini],
mas como cavaleiro medieval [meio
acometido pela velhice] lutando por um
tipo de Cristo que ele mesmo
concebia. O desejo da mulher
[assim como sua irmã gêmea repulsa] pareciam deixá-lo em paz na tarde
marasmenta.
Acusavam ao seu regime [de vida e de política] de reacionário.
Ele [em um pensamento preguiçoso]
pensou que era mais [na verdade] um receio
de algo indefinível que dominava [talvez do futuro, ou não].
António bocejou – o sol caía no Tejo.
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