Nabucodonosor
lutou trinta e três batalhas. [Nabucodonosor (dizem) não lutou nenhuma]. O
babilônico Imperador [célebre pelos jardins suspensos, os quais (na verdade) não
existiam] gostava de ver suas sangrentas obras bélicas como pinturas – como monótonas pinturas mesopotâmicas,
todas com uma irritante tonalidade amarelada,
em meio à frouxa neve, e sempre à noite – e os gritos dos feridos não o
incomodavam.
A Nabucodonosor [nos seus sólidos cinquentas] movia-o não só um óbvio desejo de violência mas uma
certa hiperpureza, uma quase
ingenuidade de considerar que, como rei, tinha o direito de fazer guerras e os
outros tinham de gostar], assim como uma surpresa
quando os homens gemiam com os ferimentos e as viúvas choravam. Como Édipo, Nabucodonosor não era muito bom
[assim sua tragédia seria odiosa, segundo Aristóteles] nem muito mau [que faria
o público vibrar pela sua desgraça, também segundo o primeiro teórico da
literatura].
Só que [contrariamente ao cego incestuoso de Sófocles] Nabucodonosor
não sofreu tragédia -exceto a de sua
existência duvidosa – a qual (segundo dizem) consiste na pior das tragédias.
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