A brochura Antígona: chata sem galochas [atribuída
falsamente a Alexandre Herculano] driblou [sabem Deus ou a Ditadura salazarista
como] a censura da Polícia Interna de Defesa do Estado e foi publicada [sem
indicação de autor] pelo Editorial História
Lusitana [na verdade, uma casa pirata] em janeiro ou fevereiro de 1961. Mais diálogo burlesco que peça de teatro, o tal texto perora contra a
personagem de Sófocles. Retrata-a [na verdade] como uma maluca.
Tão repetitivas quanto suas palavras são suas situações: a
protagonista veste sempre um [monótono] manto preto;
as cenas parecem sempre passar em um céu de crepúsculo
eterno; fisicamente jovem, a princesa de Tebas insiste em repetir frases de
lugar-comum, que parecem lhe dar idade além
da velhice; uma ventania [não
explicada no enredo] sempre esvoaça seu manto [que tem sido interpretada com a Ira frente à injustiça – ira esta que, segundo
os críticos, parece não levar a lugar nenhum]; e uma eterna crítica ao resto de todos os
seres humanos [exceto a si mesma] perpassa todo o texto [e segundo os mesmos críticos,
o toma quase todo].
Como a Antígona
original, o Antígona: chata... consiste
em tragédia. E até aí não foram poucos os que apontaram nuances – a personagem-título
parece mostrar uma ansiedade quase eufórica
em se dar mal. Nisso não se afasta muito de Sófocles – sendo claro que por poucos tenha sido levada a sério a ideia
de que tal pastiche constitua a tradução de um original perdido do dramaturgo
grego .
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