As nuvens do meu
Havana fazem rodinhas no ar. Passo muito da vida no hospital – metade bala,
metade bebida. Sou eu – Sam Spade, a.k.a. Dashiell Hammett, a.k.a. Humphrey
Bogart. De repente a encrenca bateu à
porta. Era uma zinha loura bonita e metida a mandona...
O Falcão Maltês
não começou assim – e talvez devesse. [De fato, a anti-heroína Mary Astor podia
ser zinha mas não era loura (nem muito menos bonita)]. O epítome do detetive
durão dos anos de crise oscilava [e
ainda o faz, pois congelou no tempo] nos seus quarenta
anos; nos seus filmes, a noite se eternizava; o clima pesado acabava por
potencializar o preto e branco da parca
iluminação; herói e vítima da de um exagerado senso de pureza, o herói das tramas noir sofria como um Cristo com certo toque de autopiedade, um indignado com molho masoquista
diante da megalópole – e seus cafetões, prostitutas e barmen.
Humphrey não acreditava nas mulheres. Seria boa retórica
dizer que não acreditava em nada - mas não corresponderia ao real. O patético
cavaleiro das ruas possuía um sendo pequeno, porém efetivo de decência – um companheiro
morre, deve-se fazer alguma coisa; algum promotor se corrompe, deve-se denunciá-lo;
uma garota foge para viver com um bookmaker
– avisa-se à mãe.
Dom Quixote sem o discurso medieval, recebe as mesmas
pancadas que este. Tem como recompensa [no entanto, e em vez de um título de
duque] um beijo fugidio de alguma garota de beleza famosa e moralidade idem.
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