No dia em que rejeitaram sua Tese de Doutorado, três espíritos
[dizem] visitaram Oswald Spengler [era 1903 mas a ventania da noite de Munique
lembrava algum lugar indefinido, como se o próprio tempo houvesse cansado de
existir]. O primeiro deles era seu irmão [morto de um parto prematuro pois sua mãe fora
pegar uma cesta de roupas pesada demais]. O segundo [banalmente] ajuntava os
temores típicos de um garoto de 23 anos: ser sem parceira, sem emprego, sem
amigos.
O terceiro tinha cara lisa [Oswald não lembra que tivesse sobrancelhas]
e sua falta de expressão assustava e dava conforto. Acendeu nove velas [algo
surpreendente em um pesadelo] e apagou uma. O jovem acordou.
Olhou o relógio. Tudo acontecera
em menos de um minuto. O rapaz foi à sua escrivaninha [que dava para uma
janela coalhada de chaminés] e escreveu
Existe alguma lógica
na História?
E como sinal da própria resposta interpretou que fora visitado
por ela – era o homem sem sobrancelhas. Ele [se pudesse] lhe teria contado
[imaginou Spengler] a História do mundo como um conto de fadas sem madrinhas,
de um tom azul-fosco, cuja indiferença pelos
homens era tanta que tornava abusivo qualquer medo do futuro.
Tirésias sem
cegueira, Spengler escreveu as [de resto duvidosas] revelações. Nele, falou das
oito civilizações [a 9ª vela seria ele mesmo]. E no seu Der Untergang des Abendlandes [O Vir-abaixo da Terra do Anoitecer] explicou que a História não conhece
Ira [nem perdão]. Talvez no máximo alguma
desencantadora tristeza.
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