Napoleão [o idiota] pensava [como todo idiota] em coisas
idiotas. Uma delas: ele era um herói, mais ou menos o último dos Sete Contra Tebas. No Futuro, lembrar-se-iam dele: em pintura com um ridículo chapéu de dois
cornos tingido de verde, em arrabaldes cobertos
de uma neve pouco verossímil.
Napoleão [idiotamente] acreditava-se desde antes do nascimento destinado a
feitos grandes. Ou não: sonhava por tempo
indefinido [mas sempre muito] – e não o movia a sede de eternidade mas uma
confusa papa de pedaços de desejo
da desgraça alheia, gula de sensações
e terror da morte [da própria, dito]
– como [de qualquer forma] ocorre com todos os homens.
O Tempo [os Tempos, mais idiota que qualquer um] construíram
Napoleão. Ou o jogaram em um carrossel de sangue em que todos os sonhos que não
teve foram cumpridos. Casou com uma loura [uma adolescente princesa austríaca];
reis o bajularam [e ele acabou por se crer um deles]; muita gente findou sua
vida para que fosse grande [e ele sequer o foi].
Grande foi Tolstoi – o autor de Guerra e Paz chamou Napoleão Bonaparte pelo único adjetivo que lhe
convinha – o de idiota.
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