José Maria de Eça de Queirós [dizem] detestava mulheres. E
[segundo as mesmas (pouco confiáveis) testemunhas] se dividia entre o desejo e repulsa a elas e a culpa de senti-lo. Pressionado por tal
dilema, recolheu-se a construir um pequeno mundo de letras, que mal passasse da
sua Freguesia das Janelas Verdes em Lisboa –
e se estendendo só até a vizinha São Jorge dos Arroios.
Em uma noite de maio de 1875 planejou um romance em que todos os pecados femininos
receberiam o merecedor castigo. Foi o único momento em que saiu [de alma, senão
de corpo] de suas freguesias lisboetas. Ele se passaria na Alta Idade Média, em um país
inominado [supreendentemente cheio de neve].
A heroína [tão pura que (segundo Ramalho Ortigão) parecia nunca ter nascido] rememora [em
um tempo não tão longo] a sua vida
antes de decidir-se a se lançar em um lago de águas fulvas [no qual alguns viram
um símbolo da Ira - talvez da ira de Eça, talvez da protagonista
contra si].
Não tão pura para os padrões da época afinal – tivera um
filho fora do matrimônio. Como Maria,
com a qual semelhava em mais de um detalhe – até em que sua vida fora de sofrimento
e chatice [para expiar tal desvio]. E nisso se distanciava da mãe do próprio Eça,
que nunca aceitou o filho tido nas mesmas condições. Ao final não se sabe se se
lança ou não.
As mãos do escritor jogram o manuscrito [depois de lido
por três amigos] no Tejo. Por excesso de modernidade [no final indefinido] ou por
semelhança demais com quem o escreveu.
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