Oswald Spengler em dezembro de 1917 afirmou que os hindus
desconheciam radicalmente a historicidade do mundo. Asoka [em época tão recuada
que pareceria anterior ou posterior
a todos os tempos] não previu essa frase [afinal, uma previsão é um reconhecimento
da existência do tempo] mas a mesma, e Spengler, e você, todos faziam parte do
pensamento do sábio hindu.
Escreveu-o em certo poema.
Na verdade meia centena de estrofes sem título nas quais [além da recorrente menção à cor vermelha e à neve] destaca-se a criação do mundo.
Estranha criação, subordinada à do próprio poema: segundo
o texto, o seu autor [nunca nominado, sempre alheio, espécie de Buda sem nem mesmo a indiferença, e que
paradoxalmente afirma escrever
antes do próprio nascimento], em período
indefinido porém breve de um só dia escreveu que o mundo surgiu ontem, com
memória, ruínas e livros sagrados, tudo o demais sendo ilusão, inclusive eu e
você.
Uma crítica de corte socializante [que o autor alemão,
diga-se, não faz] acusa Asoka de, em seu poema, ser indiferente aos problemas sociais [de
certa forma injusta, pois ele é indiferente não só aos pobres mas a tudo]. Mais
consistente é a desconstrução do conceito de autor, pois, se Asoka escreveu a
criação do mundo, Asoka não poderia existir. Só se [como afirmam alguns, aliás
com limitado sucesso] que o hindu representa o Terror diante do Nada, e a vontade invejosa de competir com ele, criando Algo.
Quem teria tais sentimentos, no entanto, é questão aberta.
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