O Fantasma de Hamlet
não morreu – e o ensaio com esse nome
[publicado numa gráfica de baixa qualidade na freguesia lisboeta dos Arroios no
péssimo 1 de setembro de 1939, dia que começou a Segunda Guerra] talvez seja republicado
[algum tempo depois do futuro
– dizem os detratores].
De fato, as incoerências começam na capa – de um amarelo pouco heroico, com a posição do sol
indicando o fim da manhã – apesar da neve no topo de pouco prováveis
montanhas ao fundo.
O conteúdo choca mais: de fato se trata de uma continuação
do drama shakespeariano, com Hamlet continuando sua triste carreira depois de
morto, e já com seus cinquenta [não se
sabe se de nascido ou de fantasma]. Cristo
sem missão, o [chatíssimo] príncipe agora se pergunta se o seu sacrifício foi
certo – e este é o objeto do livro.
Às vezes se deixa levar pelo desejo da desgraça do outro –
nomeadamente do ex-rei Cláudio. Em outros, porém a ira
se desvanece e ele se metamorfoseia no velho jovem príncipe já tão conhecido,
multiplicando receios, considerado por
muitos um resumo do drama humano e por outros [silenciosos porém talvez em
maior número] um chato com ou sem galochas, que por sinal ninguém mais usa.
Ou seja, o fantasma consiste na continuação do vivo, e
esta [talvez decepcionante] monotonia talvez explique o nenhum sucesso da obra.
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